Inclusão e amplitude cognitiva no mapeamento espacial
A Cartografia Tátil é uma área de Cartografia voltada para a criação de materiais cartográficos destinada a apoiar pessoas cegas ou com baixa visão na interpretação do espaço geográfico e na compreensão de conceitos ou conteúdos relacionados à geografia. Representa uma abordagem inovadora e exclusiva que ultrapassa os limites da visualidade tradicional, permitindo que pessoas com deficiência visual, educadores e o público em geral experimentem mapas por meio do tato. Esses recursos têm potencial tanto para fins educativos quanto para facilitar a mobilidade em ambientes públicos (Loch, 2008).
Os mapas e gráficos táteis tanto podem funcionar como recursos educativos, como facilitadores de mobilidade em edifícios públicos de grande circulação, como nos terminais rodoviários, metroviários, aeroviários, nos shopping centers, nos campi universitários, e também em centros urbanos. De qualquer forma, em ambos os casos, os produtos da cartografia tátil podem ser enquadrados como recursos da tecnologia assistiva, considerados assim por auxiliarem a promover a independência de mobilidade e ampliar a capacidade intelectual de pessoas cegas ou com baixa visão (Loch, 2008, p, 57).
Essa perspectiva assistiva valoriza e oportuniza a democratização do acesso à geoinformações e a compreensão do espaço geográfico, destacando-se como possibilidade de mediação em um mundo que busca equidade educacional e social. Segundo Cena e Carmo (2018), os estudos sobre a cartografia tátil no Brasil se limitavam apenas a adaptação de mapas para pessoas cegas ou com pouca visão. Todavia, a partir de 1990 os trabalhos avançaram para a criação de recursos que poderiam ser usados por todos os alunos.
Em perspectiva educacional, assistiva ou não, a cartografia tátil facilita a inclusão escolar e social com a produção e exploração de mapas táteis e maquetes. Ela promove a educação sensorial e a interação multissensorial, permitindo que todos os estudantes vivam o mapeamento de forma concreta e criativa. Isso estimula o desenvolvimento cognitivo ao integrar tato, memória espacial e representação simbólica. Além da cartografia tátil possibilitar conexões com diferentes áreas do sabe, como a arte, história, biologia e outras, através do uso de materiais diversos e da interpretação subjetiva dos mapas.
Segundo Mello e Nascimento (2024), “os mapas táteis podem apoiar na educação geografia e facilitar a mobilidade das pessoas cegas, mas para desfrutarem de total independência, elas próprias precisam de uma explicação preliminar dos signos (linguagem), devido ao único fato de não haver padronização da linguagem cartográfica tátil no mundo”. Nesse sentido, nos processos de produção de mapas pode ser utilizadas diferentes texturas, materiais diferenciados para representar rios, montanhas, estradas; sons (legendas auditivas) e outros elementos. Com o advento da tecnologia digital, surgem facilitadores como, dentre outros, impressão 3D; tradutores de Baille e; a plataforma do Arduino que possibilita o desenvolvimento de projetos eletrônicos incluindo sensores que ativam áudios nos mapas.
Em suma, a cartografia tátil ultrapassa os limites da cartografia tradicional ao integrar a sensorialidade do tato associada a outros sentidos como sons e cheiros, além do uso da tecnologia em prol da democratização do acesso aos conhecimentos geográficos. Suas possibilidades promovem a autonomia e o desenvolvimento cognitivo de pessoas cegas ou com baixa visão, ao mesmo tempo em que conecta múltiplas áreas do saber, potencializando a abordagem para mediação didática com qualquer público.
Algumas possibilidades de mediações…
Essa proposta de mediação didática, com abordagem na cartografia tátil, propõe a utilização de quebra-cabeças táteis como recurso didático inclusivos e interativos no estudo o mapa político do mundo, dos continentes e do Brasil.
Esses materiais, confeccionados pelos estudantes com peças texturizadas ou em madeira, adquirido no mercado representam os continentes que compõem o Planeta, países que compões tais continentes e as unidades federativas do Brasil, permitem a exploração espacial por meio do toque, favorecendo o aprendizado multissensorial. As peças deve apresentar os contornos (perímetro/limites) que se aproximem do real e contar com legendas em Braille para identificação de nomes e informações adicionais.
Durante a atividade, os estudantes poderão montar os mapas, manipulando as peças para compreender as relações fronteiriças, limites, tamanho e localização entre os territórios, ao mesmo tempo em que trabalham a coordenação motora e a leitura em Braille.
Abordagem dessa natureza pode promover experiências horizontalizadas de construção do conhecimento, onde os envolvidos participam e aprendem colaborativamente, valorizando a inclusão e o respeito à diversidade sensorial.
Essa mediação tem enfoque na cartografia tátil com intuito em promover uma abordagem inclusiva e sensorial do espaço escolar, permitindo que os estudantes compreendam as dificuldades de acessibilidade enfrentadas por pessoas com deficiência visual.
A dinâmica das ações envolve trajetórias, exploração do espaço, realizadas com vendas, onde os estudantes são convidados a percorrer diferentes áreas da escola, como o pátio, o refeitório, a biblioteca, a quadra esportiva, entre outras. Durante esses percursos, eles têm a oportunidade de abstrair as percepções das dificuldades de tráfego nesses espaços, como a ausência de sinalização adequada e adaptada, obstáculos nos caminhos ou falta de orientação para pessoas com deficiência.
Quando encerrada as experiências sensoriais, sugere-se realizar uma roda de conversa com os envolvidos, oportunizando o compartilhamento de suas experiências e reflexões sobre o que vivenciaram durante a trajeto com vendas. Com as trocas de experiências é possível identificar as principais questões de acessibilidade na escola para pensar em possíveis soluções na perspectiva inclusiva.
Com base nas informações coletadas e reflexões, os alunos poderão propor ações concretas, como por exemplo, a confecção de maquetes/mapas táteis que representem o espaço escolar de forma acessível, utilizando elementos que possibilitem a interpretação por meio do tato. Essas representações podem ser incluídas em pontos estratégicos da escola, como áreas de maior circulação, e devem contar com escala e legenda em braille para garantir o entendimento por todos. A maquete ou mapa tátil pode ser confeccionado em impressão 3D ou manualmente com materiais acessíveis como isopor, EVA ou texturas diversas. Em ambas pode ser criado e inserido o QR CODE com autodescrição (Basta gravar o áudio e criar uma URL/Link, isso pode ser feito simplesmente com a publicação do áudio no YouTube ou em qualquer plataforma digital. Com a URL/Link é só gerar o QRCODE no https://br.qr-code-generator.com/ ).
Ademais, a proposta pode incluir a ideia para instituição instalar pisos táteis, que orientam o movimento dos alunos dentro da escola, além, de murais informativos em braile (pode ser explorado o Tradutor Baille Link: https://www.tradutorbraille.com.br/), que trazem informações relevantes sobre os espaços e a dinâmica da escola. Isso visa melhorar a acessibilidade, mas também fomenta a conscientização e o respeito pela diversidade, ao envolver todos os estudantes em reflexões e ações ativas sobre a importância da inclusão no ambiente escolar.
Essas ações dá ênfase a aprendizagem horizontal e colaborativa, promove o envolvimento de todos os participantes no processo de transformação do espaço escolar e cria redes de conhecimentos que se expandem por diferentes áreas e perspectivas.
Mapa tátil tridimensional da UnB Brasília, Campus Darcy Ribeiro
A ideia de mediação sugerida tem enfoque na cartografia tátil na construção de conhecimento de pessoas de baixa visão, cegas ou não. Busca promover oferecer experiencias sensoriais para a compreensão das camadas do solo.
Podemos iniciar com a contextualiza a importância do estudo das camadas do solo na compreensão das dinâmicas ambientais e territoriais. Essa abordagem vislumbra explorar como o solo, em suas diferentes camadas, desempenha papéis fundamentais na sustentabilidade dos ecossistemas, na produção agrícola e na preservação dos recursos naturais.
A partir dessa perspectiva e das contribuições dos estudantes, fomentamos a refletirem sobre o solo como um elemento vivo, formado por processos históricos e naturais (cartografia pregressa), e como sua compreensão é essencial para sustentabilidade ambiental, a partir de práticas conscientes de manejo e preservação. As revisões de literaturas e discussões iniciais “prepara o terreno” para experiências práticas e inclusivas, confeccionando e/ou utilizando uma maquete tátil que representa, de forma acessível e interativa, as características das camadas do solo.
Por meio da maquete tátil, que deve combinar diferentes texturas e elementos em Braille, os envolvidos poderão explorar, de forma tátil e visual, a composição e as características do solo. Isso valoriza o engajamento, a interação, o aprendizado colaborativo e a acessibilidade, ampliando as possibilidades de participação ativa no processo de ensino-aprendizagem.
Com base na imagem ilustrativa, abaixo, pensamos nas possíveis e mutáveis estratégias para a confecção da maquete tátil.
Como mencionado, a maquete pode ser desenvolvida previamente pelo professor ou pelos estudantes utilizá-la nas mediações, no processo educativo. Seja um ou os outros, ela pode trazer as seguintes características e ser confeccionada segundo orientações.
Monte uma estrutura vertical com compartimentos horizontais para representar cada camada do solo. Use cola quente para fixar os separadores entre as camadas.
Em cada compartimento, aplique os materiais indicados ou sugira outros, desde que garanta que as texturas sejam facilmente identificáveis ao toque.
Pode traduzir as informações pelo Tradutor Braille (Link: https://www.tradutorbraille.com.br/).
Produza as etiquetas em Braille e visuais com o nome de cada camada e suas principais características. Fixe-as ao lado ou na frente da maquete.
Optando, pode adicionar informações como profundidade média de cada camada, utilizando régua em relevância. Para isso, pode ser utilizadas placa ou régua de Braille para transcrever informações.
Se possível, escolher materiais que também contrastem em cor e textura para atender a outros públicos.
Para montagem e fixação dos materiais pode ser utilizado cola quente e tesoura. Compactar as partes sempre verificando a instabilidade das partes anteriores para que suporte o correspondente.
Em casos de confeccionar previamente, é interessante fazer testes com pessoas que utilizam o sistema Braille para garantir acessibilidade e funcionalidade.
Essa sugestão de mediação, seja uma maquete construída pelo professor ou pelos estudantes, tende a ofertar a exploração não apenas da estrutura física do solo, mas também suas conexões com aspectos econômicos, como o uso de diferentes perfis de solo na agricultura, mineração ou conservação ambiental. Além de promover habilidades práticas e colaborativas, conectando conhecimentos de geografia, biologia, economia e até mesmo história, ao investigar como o solo tem sido explorado ao longo do tempo.
Desse modo, longe de se encerrar em si mesma, tais ações didáticas potencializam a curiosidade, criatividade e o engajamento para investigações futuras, promovendo um olhar mais amplo e crítico sobre o espaço geográfico, as relações entre os seres humanos e os recursos naturais.
Referências
MELLO; H. B P.; NASCIMENTO; R. S. Ressignificando as representações cartográficas do Laboratório de Cartografia Tátil Escolar – LABTATE. Revista Geoaraguaia, [S. l.], v. 14, n. Especial, p. 1–20, 2024. Disponível em: https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/geo/article/view/17925. Acesso em: 2 dez. 2024.
SENA, Carla C. R. Gimenes de; CARMO, Waldirene R. do. Cartografia Tátil: o papel das tecnologias na Educação Inclusiva. Boletim Paulista de Geografia, v. 99, 2008, p.102-123., 2018. Disponível em: https://publicacoes.agb.org.br/boletim-paulista/article/view/1470/1342. Acesso em: 20 nov. 2024.
LOCH, Ruth E. N Cartografia tátil: mapas para deficientes visuais. Portal da Cartografia, Londrina, v.1, n.1, maio/ago., p. 35 – 58, 2008. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/portalcartografia. Acesso em: 20 out. 2024.
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